Cuidado com a pílula da Inteligência!
Nootrópicos, as ‘drogas inteligentes’ estão virando moda em várias partes do planeta. Ditas estimulantes da mente e da concentração.
As ofertas de pílulas para turbinar o cérebro estão aos milhares por toda a internet. Antes de dar ouvidos a estas ofertas, verifique as referências dos sites acessados e leia este artigo até o final. Muita gente vem fazendo dinheiro em cima de pessoas desavisadas em busca de soluções para aumentar o desempenho cerebral.
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Ontem e Hoje
Quando descobrimos que éramos tristes, sem perspectivas, à beira do desespero, apareceram o Valium e o Prozac. Também nos flagramos tensos, sobrecarregados, cansados, e nos ofereceram Rivotril. Com a evolução da psiquiatria e das neurociências, para cada estágio de mal-estar da civilização logo aparece o remédio, na forma de pílulas. O próximo passo aponta para além da busca da felicidade, ou da tranquilidade: o objetivo é ganhar eficiência, especialmente no trabalho. Depois dos psicotrópicos e dos ansiolíticos, desponta a era dos medicamentos nootrópicos.
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O chamado “doping mental” apareceu nos anos 1990, com estudantes universitários americanos. Eles passaram a tomar modafinil e metilfenidato (que combate o déficit de atenção) para obter notas melhores. Hoje, começam a aparecer indícios de propagação para o mercado de trabalho. A velocidade de raciocínio é de longe o maior ativo profissional. O modafinil ficou conhecido por “droga do empreendedor” e “cocaína do século XXI”. Além dos medicamentos, também se dissemina o tratamento de choque feito em casa. Quem obtiver uma receita médica nos EUA pode adquirir, por US$ 600, um aparelho que estimula diretamente o cérebro, mais precisamente o córtex frontal, por meio de eletrodos e uma corrente contínua de até nove volts. É o chamado “estímulo transcraniano direto” (TDCS, na sigla em inglês).
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A comunidade científica é cética quanto à eficácia de substâncias que atuariam como “potencializadores cognitivos”, cada vez mais usadas por quem trabalha em ambientes competitivos. Muitos estudantes também vem tomando substâncias como a colina, aniracetam e huperzina.
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Os nootrópicos entraram para a cultura popular com o filme “Sem Limite”, em que um escritor, Bradley Cooper, toma um medicamento fictício (NZT, inspirado vagamente em modafinil), e consegue chegar ao sucesso, mas com consequências inesperadas.
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Princípios Químicos
Usar substâncias nootrópicas capazes de estimular a capacidade cognitiva, seja por um incremento na memória, atenção, concentração ou motivação são usadas há milhares de anos, sendo que, atualmente, inúmeros novos compostos com maior eficiência foram descobertos. Alguns exemplos de nootrópicos utilizados desde a antiguidade são: o café, o chocolate, o tabaco…
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Pesquisadores estudam há vários anos substâncias que possam melhorar as habilidades mentais. Estas substâncias são chamadas de “estimulantes cognitivos”, “drogas inteligentes” ou “nootrópicos”. (“Nootrópico” vem do grego – “noos =” mente e “tropos” = alterado, em direção a). Os efeitos de melhoria cognitiva podem ser variados, tais como: melhoria da memória, aprendizado, atenção, concentração, resolução de problemas, raciocínio, habilidades sociais, tomada de decisão e planejamento.
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A pesquisa destas substâncias foi orientada inicialmente aos indivíduos com deficiências mentais. Posteriormente foram realizadas pesquisas em indivíduos saudáveis. É um campo com potencial ainda pouco explorado, apesar dos benefícios em potencial deste grupo de substâncias serem enormes. Entre os nootrópicos sintéticos mais recentes temos: Ritalina, Anfetaminas, Modafinil, Piracetam, etc.
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Os nootrópicos podem ser portanto, substâncias naturais ou sintéticas que exerçam atividade positiva sobre as funções cerebrais. Como estas substâncias funcionam?
- Aumento do metabolismo cerebral
- Aumento da circulação cerebral
- Proteção do cérebro contra danos físicos e químicos
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Quais são os efeitos dessas substâncias?
- O aumento da “energia” mental
- Aumento da vigilância
- Diminuição da depressão
- Melhora da memória
- Melhora da capacidade de aprendizagem
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A maioria dos psiquiatras reluta em dar receitas de nootrópicos para pacientes saudáveis. Psiquiatras e especialistas em ética alertam para pedidos explícitos por prescrições de ritalina e outros remédios com finalidade competitiva – e nootrópica. A “Revista Brasileira de Psiquiatria” publicou um relato de médicos sobre pacientes que procuravam seus consultórios porque precisavam “conseguir emprego” ou “passar em concurso”. Eles afirmavam que uma receita de nootrópico seria o meio mais fácil de vencer a concorrência.
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Já ficou para trás a moda das drogas (ilegais) que realçavam a percepção sensorial, como o ácido lisérgico (LSD). Hoje, os estudos e os abusos vão em direção mais pragmática. As pressões para que a pessoa seja eficiente e rápida levam a enxergar no cérebro, mais do que um órgão, uma máquina. “A maioria das pesquisas procura incrementar a performance profissional e não a potência criativa”, diz Joel Birman, psicanalista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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O termo “nootrópico” foi cunhado em 1972 por Corneliu Giurgea, psicólogo e químico romeno, como uma classe dos famosos “psicotrópicos”, fármacos que conseguem penetrar no cérebro. O termo “psyche”, em grego antigo, refere-se à alma, e “noos” é o intelecto. Assim, a substância psicotrópica é aquela que produz variações no humor, como alegria ou relaxamento, enquanto a nootrópica, mais especificamente, altera capacidades de intelecção, como a memória, a atenção e a velocidade de raciocínio.
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As pesquisas já realizadas não indicam maiores efeitos colaterais de curto prazo, mas não existem dados sobre os efeitos de longo prazo, que seriam fundamentais para qualquer julgamento dos perigos dos nootrópicos. “Se essas substâncias fossem tão seguras quanto o flúor que se põe no suprimento de água, haveria um forte argumento favorável.
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Por enquanto, a contraindicação mais séria é o risco de dependência. Estudo publicado no “Journal of the American Medical Association”, sob direção de Nora Volkow, revelou que nootrópicos como o modafinil aumentam a concentração de dopamina no cérebro, o que indica a possibilidade de provocar dependência no longo prazo. Usuários da substância que experimentaram o uso diário também relatam que o efeito se torna mais fraco com o passar do tempo.
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O controle sobre os processos mentais também conduz a questões sobre a espontaneidade na vida humana. As exigências performáticas sobre o trabalhador poderiam levar a um futuro, por exemplo, em que a rotina cotidiana de todos fosse tomar um remédio “ativador” ao acordar – para pensar mais rápido e se concentrar no trabalho – e um “desativador” ao voltar para casa, relaxar e conseguir dormir. Por mais distópico que soe, há quem não se impressione.
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É natural pessoas acordarem e tomar sua xícara de café e ao chegar em casa, tomam uma taça de vinho para relaxar. Álcool e cafeína são substâncias que aparecem naturalmente na natureza e são tóxicos. Muitos afirmam que se houvesse substâncias artificiais com o mesmo efeito com menos toxicidade, por que preferir as naturais?”
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É assim que muitos concurseiros e vestibulandos passaram a usar medicamentos como a ritalina, imaginando que estariam aumentar a concentração e a retenção de informações sem sofrer sintomas perceptíveis. Médicos afirmam que usar a ritalina numa pessoa saudável é como colocar quatro violinos a mais numa orquestra sinfônica que funcionava lindamente com sete”, explica o neurologista Ricardo Teixeira, diretor do Instituto do Cérebro de Brasília. Em sua clínica, aparecem muitas pessoas atrás de soluções rápidas para problemas como dispersão e falta de memória.
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As tecnologias que prometem nos tornar mais eficazes ainda passam por um período de ajustes e comprovações. “Estamos aprendendo a lidar com as possibilidades dessas descobertas”, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O processo de aprendizado não é substituído por pílulas ou choques, embora possa ser facilitado por eles. “Talvez a capacidade de processar informações fique um pouco melhor, mas o esforço de estudar e encontrar sentido para aqueles dados ainda será necessário.”
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Quem é o atleta de elite cerebral?
É aquele sujeito em equilíbrio psíquico, com controle emocional, que tem o sono, a alimentação e as atividades físicas balanceados. Se o arroz com feijão está desorganizado, não adianta pular para o cafezinho”. Os médicos reiteram que a única coisa verdadeiramente insubstituível no processo cognitivo é o senso de mérito. “Gostamos de fazer por merecer, faz bem para nossa autoestima. Se conquistamos coisas graças a procedimentos como esses, não ficaremos tão satisfeitos”.
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É melhor fazer exercício ?
Há cientistas que acreditam firmemente no poder do bom e velho exercício. Ivan Izquierdo, médico, neurocientista e coordenador do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, afirma: “Quer melhorar seu cérebro? Leia. Use-o. Exercite-o. Mais do que isso”, diz ele, “é como tentar fazer um gato latir”. Veementemente contra intervenções químicas, físicas ou genéticas, Izquierdo derruba o mito de que usamos só 10% da capacidade mental. “Isso é bobagem, podemos usar muito, é só ler bastante e usar bastante nossa cabeça.”
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Joaquim Brasil, que fez parte, por vários anos, do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Brasília, acrescenta que o treinamento não modifica o organismo, mas potencializa o que o cérebro já tem. “Matricular um filho em três escolas de idiomas não é antiético, mas dar ritalina ou choques elétricos de 9 volts nos cérebro dele para melhorar seu desempenho é.” E conclui: “O ser humano já evolui naturalmente. Para que mexer com isso e tentar criar um super-humano?”.
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Dúvidas sobre os Nootrópicos
Lucien Thomson, professor de neurociência da Universidade do Texas em Dallas, põe em dúvida a eficácia de muitos dos nootrópicos. “Os estudos já realizados não são conclusivos”. Muitos dos sistemas neurotransmissores que conhecemos e que estão ligados à memória também participam de outros processos. Se você tomar algo para melhorar a memória, estará afetando também outras funções cerebrais, com efeitos imprevisíveis”. Não é possível controlar as quantidades dessas substâncias que as pessoas andam tomando. Sem uma supervisão adequada e considerar os possíveis efeitos colaterais, as consequências podem ser perigosas.
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Segundo Lucien Thomson, a melhor estratégia para melhorar as funções cognitivas é manter uma boa saúde. Veja o que ele afirma: “Sabemos que a atividade cerebral melhora com o exercício. As pessoas levam um estilo de vida sedentário e querem resolver isso com uma pílula, o que é absurdo”, afirmou. Para o especialista, é preciso ainda estimular a mente com atividades mentais prazerosas, e mantendo uma vida social. Nada de redes sociais, mas sim conversar pessoalmente com outras pessoas. Tudo isso traz benefícios à memória.”
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Thomson não nega que alguns remédios possam trazer benefícios para a memória, mas ressalta que, nos estudos já realizados, a maioria do que são vendidos como nootrópicos não levou a efeitos positivos.
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O que é cientificamente comprovado
Jesse Lawler, programador de Los Angeles – US, começou a se interessar por nootrópicos e outras drogas inteligentes há alguns anos. Ele diz: “Percebi que poderiam ser úteis para as tarefas mentais que tinha de fazer no trabalho”, explicou Lawler: “No meu caso, têm se mostrado úteis para ampliar os períodos de concentração. Uso como ferramentas para melhorar meu estado mental”. O programador ainda ressaltou que a palavra droga tem conotação negativa em nossa sociedade, porém as que ele consome parecem ter efeitos fisiológicos benéficos. “Além disso, procuro seguir uma dieta equilibrada e fazer exercício. Nunca tomaria nada que poderia ter um efeito negativo sobre meu corpo e, principalmente, sobre meu cérebro”, assegurou Lawler. “Existe uma ideia de que, se você usa drogas inteligentes para potencializar sua inteligência, está trapaceando… Mas não acredito haver algo de mal em querer que seu cérebro funcione melhor.”
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Lawler reconhece que há entre os usuários dos nootrópicos uma “confusão sobre que substâncias usar e como tomá-las”, e que há muita gente que está se aproveitando disso para ganhar dinheiro. Ele ainda afirma: “Se você está pensando em comprar pela internet, tenha cuidado”, adverte.
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Existe um batalhão de estudantes que estão fazendo uso de remédios prescritos para tratar hiperatividade e narcolepsia com o intuito de aumentar o desempenho cognitivo, sem considerar o risco de efeitos colaterais. Parece que os efeitos destes nootrópicos são mais sensíveis sobre o grau do estado de vigília, que permite fixar com maior prazer e concentração o assunto estudado, do que propriamente sobre o aumento do intelecto, atenção. Fica implícito também a criação de um processo de dependência física / psíquica, onde não se sabe ou não se admite resultados ruins após resultados melhores, o que leva a um uso contínuo como forma de garantia da performance cerebral.
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Com a biotecnologia atual, desenvolvida de forma exponencial, acredito que existam componentes muito mais eficientes que os vendidos atualmente no mercado. Os que estão aí são meros placebos “energéticos”. Uma droga como essa poderia mudar os pólos da economia dos países. Não creio que seria vendida a preços populares a qualquer interessado. Enquanto isso, até que haja bases científicas que comprovem as propriedades dos nootrópicos atualmente oferecidos, prefiro recorrer ao Ômega 3, café, guaraná (nootrópicos naturais), demais energéticos e aos exercícios físicos e testes mentais.
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Lembre-se sempre: seu cérebro é como um músculo. Quanto mais você o usa, mais incríveis serão as suas proezas.